18 set AnaVitória estréia 2 obras entre Brasil e Portugal.
“Encruzilhada” estreia em Lisboa no Espaço Cultural Mercês
Desde 2015 na ponte aérea entre Brasil e Portugal a coreógrafa, performer, Pós-Doutora em Artes pela Universidade de Lisboa e artista visual AnaVitória, vem desenvolvendo projetos a partir das Poéticas do Corpo e da potência afetiva do sujeito contemporâneo.
A instauração Ritual “Encruzilhada”, da autoria da artista luso-brasileira AnaVitória, vai estrear a 23 de setembro, na Galeria de Arte – Espaço Cultural Mercês, em Lisboa, e permanecerá em agenda até dia 30 do mesmo mês.
“Encruzilhada” é fruto de residências artísticas realizadas pela coreógrafa de norte a sul de Portugal em aldeias, vilas e comunidades, com mulheres que vivem à margem da vida cultural de suas cidades, muitas vezes em completo estado de invisibilidade e silenciamento social e que para este projeto, generosamente e corajosamente, partilharam as suas memórias e histórias sobre seus legados e heranças matrilineares.
O projeto aborda a questão dos comportamentos de género nas culturas impostas, nos modos como as sociedades determinam as condutas de vida e as suas segregações sociais.
O espaço expositivo integra peças escultórias construídas pela artista, fotografias anónimas de mulheres desaparecidas, objetos cirúrgicos usados em intervenções ginecológicas e tantos outros de uso doméstico feminino. O ambiente criado pretende reconduzir o olhar do espectador para este universo potente e singular.
AnaVitória coloca-se neste centro e nesta encruzilhada para dar corpo, voz e presença à memória destas mulheres. A ideia de embodyment (encarnação) assume o centro desta arena, onde o passado e o presente se unem num ritual performativo a partir das energias de arquétipos femininos, mitos e ritos. Dada a sua natureza antropológica, o projeto “Encruzilhada” é inclusivo, diverso e multicultural e assume seu hibridismo ao agregar várias linguagens artísticas.
AnaVitória vem construindo uma longa experiência em torno dos temas que envolvem o universo feminino, seus tabus, ritos de passagem e silenciamentos. Em 2012 sua Instalação Performática Ferida Sábia criada a partir da sua pesquisa sobre a menstruação como tema tabu ainda em nossa sociedade contemporânea, viajou todo o Brasil realizando mais de 80 performances a convite de Instituições Culturais, Educacionais e Artísticas ao reconhecerem a relevância e a urgência em se colocar frente ao sujeito contemporâneo um tema que não deveria ser mais motivo de pré-conceito e equívocos irrecuperáveis às mulheres.(ver site da artista www.anavitoria.com.br).
O compromisso que AnaVitória trava com seu mundo artístico e pedagógico é sobretudo ético quando coloca seu próprio corpo a serviço do discurso da arte como disparador da existência humana. Encruzilhada propõe primeiramente três camadas de percepções: a da sua visualidade através dos objetos escultórios em exposição, a da presença do corpo da artista performando outros corpos e vozes femininas e invocando ou incorporando suas histórias tão singulares e ao mesmo tempo coletivas e a da aproximação afetiva que se dará por vontade dos visitantes, ao deixarem escrito em um pedaço de gases os nomes da suas ancestres matrilineares para que sejam depois evocadas durante a performance. Assim, alinhado aos objetivos acima relacionados, este projeto pensa o fazer artístico como condição necessária de participação social e construção do pensamento e do aprendizado de sujeitos sociais conscientes de seus legados e sensíveis às suas histórias.
Encruzilhada – Instauração 2022 – Foto – Bruno Veiga
Se a arte tem como privilégio a condição de acordar o corpo de seu adormecimento resultante dos processos de codificação impostos e fazer emergir novos campos de pensabilidade, a pesquisa em torno do pensamento já codificado ou já semiotizado, como o da mulher, suas práticas e contribuições subterrâneas, nos parece a arena ideal para o debate e sensibilização do fragmentado sujeito contemporâneo.
Este projeto se coloca justamente nesta encruzilhada aonde práticas e saberes ancestrais e contemporâneos se encontram, se debatem e se olham, não só no plano social e sua crueza como também no campo da afetabilidade que a arte pode criar. Ao colocar em destaque um tema tão singular e que diz respeito a todos nós, sujeitos contemporâneos, ao sermos convidados a olhar para as histórias herdadas de nossas antepassadas em sua inesgotável cadeia matrilinear e seus desvios, dores e desafetos, nos propomos que no lugar do pré-conceito, possamos fazer uso de planos de consistência para que se realizem novas capturas de forças pelas formas poéticas. Outros planos de consistências que seriam modos de aproximações daquilo que nos convoca a partir do nosso corpo sensível no contato com a experiência artística. Possíveis aberturas, toques e olhares sensórios para a diferença que é a condição feminima no mundo.
“DSÍ- embodyment” na Bienal do Mercosul de 2022 no Brasil
DSÍ_embodyment sua Vídeo- Instalação participa da 13ª Bienal do Mercosul, e está em exposição no MARGS – Museu de Artes do Rio Grande do Sul, de 15 de setembro a 20 de novembro.
Desdobramento visual da sua Instalação Performática DSÍ de 2016 com a bailarina-atriz Carolyna Aguiar, indaga uma das questões mais caras para a coreógrafa, “quais as marcas que foram deixadas no corpo e como estas foram organizadas ao longo do seu tempo?”
Como ponto de partida desta investigação artística, a memória, os repertórios de uma existência e seus modos de arquivo, são acionados a fim de recuperar afetos de um corpo singular. Um corpo-memória em suas transversalidades temporais, seus modos, comportamentos e práticas do vivido como o sonhado.
A investigação autobiográfica em DSÍ – embodyment, a história de uma vida, seus sonhos, seu inconsciente – essa outra cena – em que também se vive, é a matéria para a sua criação poética. A autobiografia como dispositivo poético-performativo é também o tema do recente livro publicado por AnaVitória pela Editora 7Letras no Rio de Janeiro intitulado Dança- Criação autobiográfica e Memória (2022).
Cena do Vídeo DsÍ-embodyment – 2021
Uma vídeo-instalação de AnaVitória
Direção AnaVitória e Leticia Monte
Performer Carolyna Aguiar
Produção Espiral
Realização 8Tempos
Entrada gratuita, de terça a domingo, de 10h às 19h